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Fibrilação Atrial: causas, sintomas e tratamento

A fibrilação atrial (FA) é uma arritmia caracterizada pelo batimento cardíaco irregular e pela frequência cardíaca freqüentemente rápida. Normalmente, os átrios e os ventrículos se contraem na mesma velocidade. Durante a fibrilação atrial, as duas câmaras superiores do coração (os átrios) batem de forma caótica e irregular – fora de sincronia com as duas câmaras inferiores (os ventrículos) do coração. Eles se contraem tão rapidamente que as paredes do coração tremem ou fibrilam.

É a arritmia sustentada mais comum na prática clínica, e sua prevalência na população geral foi estimada entre 0,5 e 1%. Já na população acima de 80 anos a prevalência dessa arritmia é de 8%.

Quais são as causas da Fibrilação Atrial?

A fibrilação atrial se desenvolve quando surgem alterações na parte elétrica do coração que consequentemente interferem na formação e propagação do impulso elétrico. O mecanismo que levam a essas anormalidades elétricas são pouco definidos mas sabe-se que danos à estrutura do coração podem levar à FA. Dentre as possíveis causas de fibrilação atrial incluem:

  • Pressão arterial elevada
  • Diabetes
  • Doença valvar
  • Infarto do miocárdio 
  • Insuficiência cardíaca
  • Cirurgia Cardíaca prévia
  • Cardiopatia Congênita
  • Medicamentos, tabaco ou álcool
  • Apnéia do Sono
  • Alteração metabólica

Além dessas possíveis causas,  existem alguns fatores que aumentam o risco de desenvolver fibrilação atrial como: envelhecimento, obesidade e histórico familiar 

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No entanto, algumas pessoas com fibrilação atrial não apresentam defeitos cardíacos ou fatores de risco que justifiquem a arritmia. Nesse casos, a causa geralmente não é clara e complicações graves são mais raras.

Quais são os sintomas da fibrilação atrial?

Algumas pessoas com fibrilação atrial são assintomáticas. Essas pessoas vão descobrir a arritmia durante um exame físico ou através de um exame cardiológico. No entanto, existem  aqueles que apresentam  sinais e sintomas da fibrilação atrial. Dentre os sintomas incluem:

  • Palpitações cardíacas – sensação de batimento cardíaco acelerado e irregular  ou batimento forte ou vibração no peito
  • Desconforto torácico
  • Tontura ou sensação de desmaio
  • Falta de ar – dificuldade respiratória durante as atividades habituais ou mesmo em repouso
  • Falta de energia ou cansaço excessivo
  • Quais são as possíveis complicações da fibrilação atrial?

Quais são as possíveis complicações da fibrilação atrial?

Como os átrios estão batendo rápido e irregularmente, o sangue não flui através deles adequadamente. Consequentemente, isso torna o sangue mais propenso a formar trombos (coágulos). A presença de trombos nos átrios aumenta o risco de eventos cardioembólicos, dentre eles o acidente vascular cerebral (derrame). Pessoas com fibrilação atrial têm 5 a 7 vezes mais probabilidade de ter um derrame do que a população em geral. Os coágulos também podem viajar para outras partes do corpo (rins, coração, intestinos) e causar outros danos.

Além disso, a fibrilação atrial pode levar a outros tipos de complicações. Dentre eles podemos citar a insuficiência cardíaca. A fibrilação atrial que ocorre por um período prolongado com a frequência cardíaca elevada pode enfraquecer o coração, comprometendo a sua função global.

Como fazer o diagnóstico da fibrilação atrial?

Em um primeiro momento, a suspeita clínica da fibrilação atrial ocorre através da história clínica e do exame físico. A FA pode ser detectada através da irregularidade do pulso ou da irregularidade dos batimentos cardíacos na ausculta do coração. Mas para confirmar a presença de fibrilação atrial, exames complementares devem ser realizados. Dentre eles destacamos:

Eletrocardiograma (ECG)

Exame simples e barato. Ele é utilizado para registrar a atividade elétrica do seu coração e é a principal ferramenta para o diagnóstico de fibrilação atrial.

Exames Laboratoriais

Os exames de sangue são fundamentais para tentar determinar a causa ou fatores “gatilhos” para a fibrilação atrial. Dentre eles destacamos os eletrólitos (sódio, potássio, magnésio) e a função tireoidiana. Além disso, os exames de sangue (função renal e hepática, por exemplo) podem ajudar a avaliar o melhor medicamento e dose a ser usado para o tratamento da FA.

Monitor Holter 24

É um dispositivo portátil de ECG que registra a atividade do seu coração por 24 horas. Tem como objetivo avaliar a causa dos sintomas, como palpitações ou tonturas, ocorridos fora do consultório médico. Consequentemente, pode detectar diversos tipos de arritmias como, por exemplo, a fibrilação atrial.

Ecocardiograma

É um exame de ultrassom, no qual as imagens do coração, captadas por um transdutor colocado sobre o tórax do paciente, são transmitidas para um monitor. É um método diagnóstico muito utilizado em cardiologia para a detecção de alterações estruturais e/ou funcionais do coração. Na fibrilação atrial é interessante para tentar avaliar possíveis causas dessa arritmia como, por exemplo, doenças valvares ou doenças do miocárdio.

Looper (externo ou implantável)

Monitor de eventos que podem ser usados ​​externamente e alguns modelos requerem uma pequena cirurgia para colocar o dispositivo sob a pele na área do tórax. Esses dispositivos implantados podem registrar dados por meses e são usados ​​para detectar arritmias, como a fibrilação atrial, que não são detectadas nos outros exames.

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Tratamento

O tratamento da fibrilação atrial se baseia em dois pilares:

– Prevenção de coágulos sanguíneos e redução de AVC (acidente vascular cerebral).

– Manejo dos sintomas através de controle do ritmo ou da frequência cardíaca

Além disso, é fundamental mudanças no estilo de vida aliados ao tratamento instituído, para melhor sucesso da terapia. Em resumo, o tratamento da FA  tem que ser individualizado baseado na sintomatologia, tempo de doença,  doenças subjacentes e possível causa de base da FA.

Mudanças no estilo de Vida

Algumas mudanças nos hábitos de vida são de suma importância para o tratamento da fibrilação atrial. Dentre elas incluem:

  • Cessação do tabagismo
  • Controle da pressão arterial
  • Moderação na ingestão de bebidas alcoólicas
  • Redução do peso
  • Tratamento da apneia do sono
  • Limitar o uso de bebidas cafeinadas (chá, café, bebidas energéticas e refrigerantes) em alguns casos
  • Controle da glicose

Manejo dos sintomas

Como relatado anteriormente, o tratamento da FA pode ser necessário para ajudar a controlar seus sintomas. Isso pode ser feito através de duas maneiras:

1- Controlando a frequência cardíaca

2- Restaurando o coração para o ritmo normal.

1- Controle da frequência cardíaca

Reduzir a frequência cardíaca (FC) pode aliviar os sintomas, mesmo que você ainda tenha um ritmo cardíaco irregular. E isso pode ser atingido através de medicações específicas como:

  • Beta- Bloqueadores
  • Bloqueadores do canais de cálcio não -diidropiridínicos
  • Digoxina.

A escolha de cada medicamento deverá ser individualizada. No entanto, os betabloqueadores acabam sendo as medicações mais utilizadas como primeira droga para controle de FC. 

O escolha dos bloqueadores de canal de cálcio é reservada para o paciente que tem alguma contraindicação ao betabloqueador ou utilizado em associação. Todavia, a medicação Verapamil ( bloq. canal de cálcio) deve ser evitado em associação com um beta- bloqueador devido risco de reduzir muito a FC.

A digoxina é utilizada em casos mais específicos. Por exemplo, pacientes que tem FA e insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e que geralmente não atingiram  a FC adequada com uso de beta-bloqueadores.

2- Controle do ritmo

Nos casos de sintomas mais graves decorrentes da fibrilação atrial, ou no primeiro episódio de FA, a opção de restaurar a arritmia para o ritmo normal é interessante. Para a restauração do ritmo realiza-se um procedimento chamado cardioversão. A cardioversão pode ser química (farmacológica) ou elétrica.

Cardioversão Farmacológica – A cardioversão farmacológica usa medicamentos chamados antiarrítmicos para tentar restaurar o ritmo cardíaco normal. Nesse sentido, o médico pode optar por antiarrítmicos por via oral (comprimido) ou por via intravenosa (pela veia).  A escolha de cada medicamento vai depender de cada paciente. Ademais, este procedimento deverá ser realizado no hospital com observação médica.

Cardioversão elétrica- A cardioversão elétrica  é um procedimento que usa um desfibrilador para fornecer um choque elétrico sincronizado no coração. Esse impulso elétrico tem como objetivo interromper o ritmo anormal por um breve momento, permitindo que seu coração retome o ritmo normal. Apesar de ser um procedimento realizado em ambiente hospitalar, em casos eletivos, o paciente pode retornar para casa no mesmo dia . Além disso, é um procedimento que dura poucos minutos e o paciente não sente dor devido a sedação ou anestesia.

Medicamentos anti-arrítmicos – Após a cardioversão (química ou elétrica),geralmente é prescrito um medicamento antiarrítmico. O intuito é manter a frequência cardíaca em um ritmo normal após a cardioversão por um longo período. Os antiarrítmicos comuns incluem:

  • Propafenona
  • Amiodarona
  • Sotalol

Prevenção de formação de coágulos

A  prevenção de formação de coágulos sanguíneos é realizada através do uso de anticoagulantes. A decisão de utilizar esses medicamentos vai depender do risco de eventos tromboembólicos e de sangramento de cada paciente. A estratificação do risco de eventos tromboembólicos é realizada através do escore chamado CHADsVASc. Se o risco for alto define-se a anticoagulação, no risco moderado a escolha é individualizada e no risco baixo não se anticoagula.

Existem duas classes gerais de anticoagulantes que podem ser usados na forma de comprimidos: os anticoagulantes orais diretos (DOACs, siga em ingês) ou a varfarina. 

Os tipos comuns de DOACs disponíveis incluem:

  • Dabigatrana
  • Rivaroxaban
  • Apixaban
  • Edoxaban

Atualmente, preconiza-se a utilização dos DOACs devido suas vantagens em relação à varfarina. São elas:

  • Melhor perfil de segurança devido menor sangramento
  • Ação anticoagulante mais previsível, o que dispensa o uso de exames de coagulação para monitorizar o efeito
  • Menor interação medicamentosa e alimentar

Ablação e procedimentos cirúrgicos

Em alguns casos, medicamentos ou cardioversão para controlar a fibrilação atrial não funcionam. Nesses casos, o médico pode recomendar um procedimento para destruir a área do tecido cardíaco que está causando os sinais elétricos alterados e restaurar o ritmo normal do coração. Essas opções podem incluir:

Ablação por cateter

A ablação da veia pulmonar pode ser uma opção para pessoas que não toleram medicamentos ou quando os medicamentos antiarrítmicos não são eficazes no tratamento da fibrilação atrial.  O procedimento de ablação é realizado por um cateter que produz energia de radiofrequência, frio extremo (crioterapia) ou calor para destruir áreas do tecido cardíaco que estão causando batimentos cardíacos rápidos e irregulares

Ablação do nó atrioventricular (AV)

Se os medicamentos ou outras formas de ablação por cateter não funcionarem ou causarem efeitos colaterais, ou se não houver indicação para essas terapias, a ablação do nó AV pode ser uma opção. O procedimento consiste na destruição de uma pequena área do tecido cardíaco, evitando a sinalização anormal. Isso evita que os sinais elétricos do átrio cheguem ao ventrículo. Nesse sentido, haverá necessidade de implantar um marcapasso para manter as câmaras inferiores (ventrículos) batendo corretamente. 

Fechamento do apêndice atrial esquerdo

O fechamento do apêndice atrial esquerdo é uma alternativa para a redução do risco de AVC  e demais eventos tromboembólicos em pacientes com fibrilação atrial crônica. Estudos comprovam  que 90% dos coágulos sanguíneos formados dentro do coração surgem em uma área conhecida como apêndice atrial esquerdo,  câmara localizada na parede muscular do átrio esquerdo

Neste procedimento, insere-se um cateter através de uma veia na perna e, eventualmente, conduzem-no à câmara cardíaca esquerda superior (átrio esquerdo). Um dispositivo denominado dispositivo de fechamento do apêndice atrial esquerdo é então inserido através do cateter para fechar o apêndice atrial, visando impedir que se formem coágulos neste local. 

A indicação para o implante deste dispositivo fica reservado para os pacientes com contraindicação para anticoagulação (incluindo os DOACs), e aqueles com evento embólico na vigência de anticoagulação oral efetiva.

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