Tabagismo passivo e artrite reumatoide
De acordo com um estudo apresentado no Congresso Europeu de Reumatologia, a exposição ao tabagismo passivo na infância e na idade adulta está associada a um risco aumentado de artrite reumatoide (AR) em mulheres.
Segundo dr. Yann Nguyen, médico do Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Saúde da População da Universidade de Paris-Saclay em Villejuif e do Hospital Beaujon da Universidade de Paris em Clichy na França, os resultados do estudo sugerem que os subprodutos do fumo, sejam ativamente ou passivamente inalados, podem gerar autoimunidade, pelo menos com relação aos antígenos envolvidos na patogênese da artrite reumatoide.
“Além disso, a idade de início da artrite reumatoide parecia ser menor entre as mulheres com exposição ao fumo de forma passiva na infância, como se a autoimunidade fosse disparada muito tempo antes”, informou Nguyen ao Medscape Medical News. “Logo, acreditamos que o tabagismo passivo deve ser evitado, principalmente entre as mulheres com risco de artrite reumatoide.”
Pesquisas anteriores já evidenciaram por diversas vezes que o tabagismo é um fator de risco para artrite reumatoide com positividade para anticorpos de proteína anticitrulinada (Anti-CCP). Especialmente naqueles que têm os alelos de epítopo compartilhado HLA-DRB1 (SE), explicou Nguyen. E este estudo avaliou se a exposição à fumaça de outras pessoas teve alguma associação semelhante.
O estudo
Os pesquisadores se apoiaram no estudo francês, prospectivo, de coorte, conhecido como E3N-EPIC (Etude Epidémiologique auprès de femmes de la Mutuelle Générale de l’Education Nationale), que foi planejado para examinar possíveis associações entre fatores ambientais e doenças crônicas. Das 98.995 mulheres francesas saudáveis que este estudo longitudinal acompanhou desde 1990, foram incluídas 79.806 participantes com uma idade média de 49 anos. Um total de 698 mulheres manifestaram artrite reumatoide durante o estudo, em média 11,7 anos após o início do estudo.
A exposição ao tabagismo passivo na infância foi definida com base no auto-relato dos participantes e caracterizada como passar várias horas por dia em uma sala cheia de fumaça quando criança. A exposição de adultos ao tabagismo passivo também foi baseada em auto-relato de mulheres como ficar pelo menos 1 hora por dia com adultos fumantes ativos.
Os pesquisadores, além disso, estratificaram as participantes em grupos de mulheres que fumam atualmente, nunca fumaram ou que costumavam fumar. Outras variáveis foram adicionadas ao estudo e incluíram índice de massa corporal e o nível educacional.
Resultado
Aproximadamente uma em sete das mulheres (13,5%) do estudo relatou exposição ao fumo passivo na infância e pouco mais da metade (53,6%) descreveu exposição passiva na idade adulta. No total, 58,9% das participantes tiveram exposição passiva na idade adulta ou na infância, e 8,25% tiveram ambos.
Encontrou-se uma associação positiva entre a exposição na infância e a artrite reumatoide . O risco de artrite reumatoide foi 1,24 vezes maior em geral para aqueles expostos ao tabagismo passivo na infância em comparação com aqueles sem exposição. No entanto, o risco foi ainda maior entre mulheres que nunca fumaram, e a associação não foi estatisticamente significativa em mulheres que já fumaram.
De forma semelhante, o risco de artrite reumatoide foi maior entre as mulheres que relataram exposição ao tabagismo passivo na idade adulta . E mais uma vez, as mulheres que nunca fumaram tiveram um risco aumentado modestamente. Mas nenhuma associação estatisticamente significativa foi encontrada para mulheres que eram fumantes ou ex-fumantes.
“O risco de desenvolver artrite reumatoide se exposto ao fumo passivo, seja na infância ou na idade adulta, existe. Ademais, faz sentido do ponto de vista biológico, uma vez que a artrite reumatoide frequentemente inicia no pulmão antes de atingir as articulações.”, disse dr. Loreto Carmona , médico e presidente do comitê do programa científico EULAR e diretor científico do Instituto de Saúde Musculoesquelética em Madrid, Espanha.
Embora estudos anteriores já tenham mostrado a associação entre tabagismo ativo e artrite reumatoide, essas novas descobertas sugerem que os médicos precisam enfatizar para seus pacientes esse efeito negativo adicional do tabagismo.
“Os pacientes devem ser informados sobre o risco aumentado de seus filhos desenvolverem artrite reumatoide pelo componente genético da doença, e também no caso de serem expostos ao tabagismo passivo ainda na infância”, dr. Hendrik Schulze-Koops, chefe da divisão de reumatologia da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha, disse ao Medscape Medical News. “A artrite reumatoide não é a única consequência do tabagismo passivo e, por mais grave que seja, provavelmente não é a mais dramática. . O tabagismo é evitável – não coloque seus filhos em uma situação onde estão expostos. “
Texto publicado no Medscape Medical News