febre Familiar do Mediterrâneo

Febre familiar do Mediterrâneo: sintomas, causas e tratamento

O que é a febre familiar do Mediterrâneo?

A febre familiar do Mediterrâneo (FMF) é uma doença autoinflamatória genética que causa episódios recorrentes de febre e inflamação dolorosa nas articulações, abdome e tórax. Também se chama ‘peritonite periódica’, ‘polisserosite paroxística familiar’, ‘doença periódica’, ‘doença de Siegal-Cattan-Mamou’, ‘doença periódica de Wolff’ ou ‘síndrome de Reimann’.

É uma doença hereditária que afeta principalmente pessoas de origem mediterrânea (como por exemplo os de origem judaica, árabe, armênia, turca, norte-africana, grega ou italiana). No entanto, pode ocorrer em pessoas de qualquer grupo étnico. 

Geralmente, a febre familiar do Mediterrâneo costuma ocorrer na infância e é nesse período que comumente se faz o diagnóstico. Em adultos, a FMF é mais comum em homens do que em mulheres, na proporção homem/mulher de 1,8:1.

Quais os sintomas da febre familiar do Mediterrâneo?

Como já descrevemos anteriormente, os primeiros sinais e sintomas da febre familiar do Mediterrâneo normalmente acontecem na infância. Cerca de 60% dos casos ocorrem antes dos 10 anos de idade e  90% antes dos 20 anos. De acordo com a maioria dos estudos,  não há diferença significativa na incidência de FMF em homens ou mulheres . 

A característica principal da FFM é que os sintomas ocorrem em crises, chamadas de ataques . Esses ataques desenvolvem-se ao longo de 2 a 4 horas e duram cerca de 12 a 72 horas, desaparecendo espontaneamente. 

Os ataques geralmente duram poucos dias e como já dito, desaparecem de forma espontânea. Entre os ataques, você provavelmente ficará sem sintomas, sentindo-se normal. Os períodos entre ataques, isto é, sem sintomas, podem durar de uma semana até vários anos. E a gravidade dos ataques pode variar a cada vez que ocorre.

Os sinais e sintomas dos ataques de FMF podem ser bastante diversos e incluem:

Febre:

A elevação da temperatura pode surgir antes de outros sintomas. Além disso, nos ataques leves, a febre pode ser a única manifestação. No entanto, uma minoria de pacientes apresenta crises sem febre.

Dor abdominal:

Quase todos os pacientes vão apresentar sintomas abdominais. A dor abdominal se desenvolve e pode progredir para peritonite. Comumente a manifestação clínica é consistente com apendicite ou colecistite

Dor no peito, que pode piorar com a respiração:

Geralmente decorrente da inflamação da pleura ou pericárdio, membrana que envolve o pulmão e coração, respectivamente. Além disso, a frequência dos ataques pleurais e pericárdicos varia entre os grupos étnicos.

Dor e inchaço articular:

Os episódios podem lembrar a artrite gotosa por seu início e intensidade agudos. Punhos, joelhos e tornozelos são as articulações mais frequentemente comprometidas. Entre os ataques as articulações ficam normais e lesões permanentes são raras.

Dores musculares:

A mialgia intensa e grave pode durar de 3 a 6 semanas. Os sintomas lembram fibromialgia e normalmente não respondem à colchicina

Erupção avermelhada:

Cerca de  50% dos pacientes referem lesões de pele parecidas com erisipela nas extremidades inferiores, especialmente abaixo dos joelhos. Ademais, estas manifestações cutâneas e febre podem ser os únicos sintomas dos ataques

Inchaço e dor em bolsa escrotal:

A inflamação da túnica vaginal testicular pode simular episódios de torção testicular

Sintomas Prodrômicos

Muitos pacientes também descrevem sintomas prodrômicos , isto é, sintomas que ocorrem antes dos ataques. Estes sintomas variam desde sensação de nervosismo, ansiedade e irritabilidade como também, sintomas de enjôo e mialgia ( dor muscular). Ocasionalmente, os pacientes associam o surgimento dos ataques a determinados gatilhos como: 

  • Estresse severo 
  • Exposição ao frio 
  • Exercícios pesado 
  • Infecção recente 
  • Cirurgia recente
  • Menstruação. 

Felizmente, conforme o tempo vai passando, a frequência das crises costuma diminuir e os seus episódios tornam-se menos intensos. 

Além disso, a amiloidose pode ser a primeira manifestação da FMF em alguns casos. A proteína amiloide A, que geralmente não se encontra no nosso no corpo, acaba acumulando nos órgãos, principalmente nos rins, causando disfunção nos locais acometidos. Nos rins , por exemplo, pode causar inflamação e alteração da função renal ou perda de proteínas.  

Quais as causas da febre familiar do Mediterrâneo? 

A febre familiar do Mediterrâneo é ocasionada por uma mutação genética. Esta alteração genética compromete a função de uma proteína do nosso corpo conhecida como pirina ou marenostrina, causando alterações na  regulação da inflamação em nosso corpo.

O gene em que ocorre a mutação na FMF é chamado de MEFV. Muitas alterações genéticas no MEFV estão ligadas ao FMF. Mais de 310 variantes de sequência deste gene foram identificadas, embora nem todas não estejam associadas à manifestação de doença (fenótipo). Algumas destas alterações podem causar doenças muito graves, enquanto outras podem levar a sintomas e sinais leves.

Como já foi descrito acima, não está claro o que exatamente desencadeia as crises, mas elas podem ser decorrentes de estresse emocional ou físico, exposição ao frio, menstruação, entre outros. 

Fatores de risco

Alguns fatores  podem aumentar o risco de se desenvolver a febre familiar do Mediterrâneo e abaixo citamos alguns deles:

  • Ascendência mediterrânea. Como já descrevemos anteriormente, a FMF pode em qualquer grupo étnico, mas é mais provável em pessoas de ascendência árabe, judaica, grega, italiana, turca, arménia, e norte-africana.
  • História familiar da doença

Quais as complicações da febre familiar do Mediterrâneo?

As complicações que ocorrem na Febre Familiar do Mediterrâneo geralmente estão relacionadas ao não tratamento da doença. E a maioria dessas complicações são decorrentes da amiloidose. 

Amiloidose

O nosso corpo pode produzir uma proteína chamada Amilóide “A” durante as crises da FMF. Esta proteína normalmente não é encontrada no corpo. O acúmulo dessa proteína leva a inflamação e consequentemente danos nos órgãos acometidos.

A amiloidose pode causar inflamação nos rins, causando perda excessiva de proteínas, o que chamamos de síndrome nefrótica. Esta síndrome ocorre porque os rins perdem a capacidade de filtrar adequadamente, ocasionando a perda de proteínas pelos glomérulos (unidade de filtração dos rins).

Quando não se trata a amiloidose na FFM, ela pode inflamar os rins, causando perda excessiva de proteínas nesse órgão (proteinúria). Logo, a progressão natural da doença renal não tratada é a proteinúria, seguida da  síndrome nefrótica (doença renal que leva a perda de proteína na urina > 3 g em 24h) e, inevitavelmente, insuficiência renal crônica.

Embora os depósitos amilóides no sistema renal sejam bastantes comuns,  os depósitos em outros órgãos são raramente relatados.de forma significativa.

A sobrevida maior dos pacientes decorrente da terapia com colchicina, diálise e transplante renal levou ao surgimento de outras manifestações da amiloidose. Alguns pacientes apresentam envolvimento em outros órgãos, como o intestino, causando má absorção.

Outras complicações

Pacientes com síndrome nefrótica podem desenvolver  trombose da veia renal. Esta condição pode se apresentar como dor abdominal, aumento da proteinúria e piora da função renal. Um terço dos pacientes com amiloidose desenvolve trombose da veia renal..

Muitos pacientes com FFM foram submetidos à apendicectomia porque a gravidade dos episódios com comprometimento peritoneal parecia indicar apendicite.

Cerca de 5% dos pacientes com FMF desenvolvem artrite crônica, podendo em alguns casos evoluir para artrite destrutiva dos quadris ou joelhos com necessidade de próteses articulares. Os joelhos, tornozelos e quadris, por exemplo, são as articulações mais comumente afetadas. A artrite recorrente foi significativamente associada a um risco aumentado de amiloidose AA

Aproximadamente um terço das pacientes do sexo feminino com FFM são inférteis e 20-30% das gestações resultam em perda fetal.

Como se faz o diagnóstico da febre familiar do Mediterrâneo?

O diagnóstico da febre familiar do Mediterrâneo é baseado nos sinais e sintomas informados pelo paciente em consulta médica, através de uma anamnese bem feita e um exame físico minucioso. Por meio da anamnese é possível coletar informações importantes para se chegar ao diagnóstico, como o histórico médico familiar.  Um histórico familiar de FMF aumenta a probabilidade de desenvolver a doença uma vez que essa alteração genética é transmitida de pais para filhos.

Além disso, exames laboratoriais e testes genéticos também fazem parte da investigação da doença. Por exemplo, durante uma crise, os exames de sangue podem mostrar-se alterados com níveis elevados de marcadores inflamatórios (VHS e Proteína C reativa).  Os glóbulos brancos (leucócitos), que combatem infecções, podem encontrar-se altos. E a proteína na urina também pode estar  aumentada sugerindo a possibilidade de amiloidose.

Os exames genéticos podem determinar se existe alteração no gene MEFV  que possa estar associada  à FMF. Existe a possibilidade de resultados falso-negativos, por isso, os prestadores de serviços médicos geralmente não costumam usar os testes genéticos como única ferramenta diagnóstica da FMF. 

Qual o tratamento para febre familiar do Mediterrâneo?

O tratamento da febre familiar do Mediterrâneo se baseia principalmente no uso de medicamentos para controlar os sintomas e prevenir novos ataques. Da mesma forma, a busca por parte do paciente pela informação correta é essencial. Conhecer os fatores de riscos e gatilhos que desencadeiam as crises são importantíssimos para se ter o controle adequado da doença e evitar sua progressão.

A seguir descreveremos os medicamentos utilizados no tratamento da FMF:

Colchicina

A colchicina, medicamento com ação anti-inflamatória, é muito eficiente na prevenção das crises da febre familiar do Mediterrâneo (FMF) e do desenvolvimento de amiloidose. Por isso, é fundamental um diagnóstico correto e precoce para início da terapia. A colchicina pode ser administrada em doses únicas ou divididas, dependendo da adesão e adaptação do paciente. Ataques recorrentes ou inflamação subclínica justificam aumento de dose de colchicina.

Biológicos

Nos casos em que não há resposta à colchicina, o tratamento com biológicos, especialmente os agentes anti-interleucina-1 (IL-1), pode ser eficaz. Os medicamentos biológicos utilizados na FMF são os seguintes:

  • Interferon-alfa: Apresenta resultados variados. Tem sido utilizado de forma intermitente e como profilaxia.
  • Etanercepte (anti-TNF – Fator de necrose tumoral)
  • Anakinra  e Rilonacept (Antagonistas do receptor de IL-1): Embora não sejam aprovados pelo FDA, além do controle dos ataques, o anti-IL1 mostrou ser capaz de reverter a proteinúria em pacientes com amiloidose tipo AA.
  • Canacinumabe (anticorpo monoclonal humano anti-IL-1β): Foi  aprovado pela FDA dos EUA para FMF em 2016. 

Dapsona

Pacientes que não apresentam resposta adequada à colchicina e que não têm condições de adquirir agentes biológicos, podem se beneficiar do uso da dapsona concomitante à colchicina.

Corticoide

Pacientes que apresentam episódios de mialgia ou artralgia prolongada com febre, podem precisar do tratamento com corticóide, como por exemplo, a prednisona (1 mg/kg), por até 6 semanas.

A febre familiar do Mediterrâneo tem cura? 

Embora não haja cura para essa  doença, você pode ter alívio dos sintomas ou até mesmo preveni-los seguindo o tratamento indicado pelo médico especialista.

Dr. Marcelo de Loyola e Silva Avellar Fonseca – Reumatologista

A Loyola e Avellar possui profissionais capacitados e tem como objetivo cuidar da saúde e bem-estar de seus pacientes.  Agende sua consulta agora mesmo:   41.3076-3054 ou whatsapp