Síndrome ASIA: entenda a ligação entre implantes, vacinas e doenças autoimunes

A Síndrome Autoimune/Inflamatória Induzida por Adjuvantes (ASIA), também chamada Síndrome de Shoenfeld, é um conjunto de manifestações clínicas que podem surgir após a exposição a substâncias conhecidas como adjuvantes — compostos capazes de estimular o sistema imunológico.

Nos últimos anos, médicos e pesquisadores identificaram que, em indivíduos geneticamente predispostos, esses adjuvantes podem desencadear respostas imunes exageradas, levando a sintomas persistentes e até ao desenvolvimento de doenças autoimunes.

O que é a Síndrome ASIA?

Uma reação autoimune provocada por estímulos ambientais

O termo ASIA foi proposto em 2011 para reunir sob um mesmo diagnóstico várias condições que apresentavam um padrão comum:

• Exposição prévia a um adjuvante (como alumínio, silicone, metais, pigmentos ou óleo mineral);
  
• Desenvolvimento de sintomas crônicos de natureza inflamatória ou autoimune;
  
• Melhora significativa após a remoção do agente desencadeante.
  

Adjuvantes são substâncias capazes de potencializar a resposta imune. Embora desempenhem papel importante em vacinas e dispositivos médicos, podem, em pessoas suscetíveis, ativar de forma prolongada o sistema imunológico e provocar inflamação persistente.

Onde estão presentes os adjuvantes?

Principais fontes conhecidas

Entre os agentes mais frequentemente associados ao ASIA, destacam-se:

• Vacinas com sais de alumínio ou outros estimuladores da resposta imune (como HPV e COVID-19 em casos raros).
  
• Implantes médicos:
  
  • Próteses mamárias de silicone.
    
  • Malhas de polipropileno usadas em cirurgias.
    
  • Dispositivos contraceptivos, como o Essure.
    
  • Próteses ortopédicas metálicas.
    
• Procedimentos estéticos: preenchimentos com metacrilato, poliacrilamida e óleos minerais.
  
• Tatuagens com pigmentos contendo metais.
  

Quais são os sintomas mais comuns da Síndrome ASIA?

Sinais e manifestações clínicas

O quadro clínico pode variar bastante, mas alguns sintomas aparecem de forma recorrente:

• Fadiga crônica intensa, muitas vezes incapacitante.
  
• Distúrbios do sono, como insônia e sono não reparador.
  
• Dores musculares e articulares (mialgias e artralgias).
  
• Rigidez matinal e fraqueza muscular.
  
• Alterações cognitivas, incluindo perda de memória, dificuldade de concentração e sensação de “névoa mental”.
  
• Secura ocular e bucal (sintomas sicca).
  
• Manifestações neurológicas, como dormência, formigamento, queimação na pele, crises semelhantes a esclerose múltipla e neuropatia de fibras finas.
  
• Sintomas autonômicos, como palpitações, tontura e intolerância ortostática (POTS).
  
• Problemas gastrointestinais, como dor abdominal e síndrome do intestino irritável.
  
• Alterações dermatológicas, incluindo queda de cabelo, coceira, urticária e erupções cutâneas.
  

Como é feito o diagnóstico da Síndrome ASIA?

Critérios principais e secundários

O diagnóstico é clínico e segue critérios estabelecidos por especialistas:

Critérios maiores:

• Exposição prévia a um adjuvante.
  
• Presença de sintomas típicos.
  
• Melhora dos sintomas após a remoção do agente.
  
• Biópsia com alterações inflamatórias compatíveis.
  

Critérios menores:

• Presença de autoanticorpos.
  
• Sintomas adicionais como fenômeno de Raynaud.
  
• Associação com doenças autoimunes específicas.
  

Para confirmar o diagnóstico, o paciente deve apresentar dois critérios maiores ou um maior e dois menores.

Quais são as causas mais comuns da Síndrome ASIA?

Exemplos práticos

1. Implantes de silicone
   
   • Associados a fadiga, dor difusa, alterações cognitivas e sintomas autonômicos.
     
   • Estudos mostram melhora significativa (50% a 98%) após a remoção.
     
2. Próteses ortopédicas metálicas
   
   • Casos documentados de intoxicação por cromo e cobalto.
     
   • Sintomas incluem fraqueza, perda de peso, alterações neurológicas e cognitivas.
     
3. Dispositivos contraceptivos
   
   • O Essure, por exemplo, contém metais e fibras que podem atuar como adjuvantes.
     
4. Vacinas
   
   • Casos raros de ASIA foram descritos após vacinas de HPV e COVID-19, geralmente em pessoas com predisposição genética.
     
5. Preenchimentos estéticos e óleos minerais
   
   • Amplamente utilizados de forma irregular, especialmente na América Latina.
     

A relação entre ASIA e vacinas

Entendendo os casos documentados

• HPV: alguns relatos descrevem fadiga, dor difusa, tontura e neuropatia após a aplicação, possivelmente relacionados a adjuvantes à base de alumínio.
  
• COVID-19: em casos raros, descritos na literatura, foram observadas manifestações como tireoidite subaguda, doenças autoimunes novas ou reativadas e síndromes neurológicas.
  

É importante destacar que esses eventos são raros e não diminuem a importância da vacinação, mas reforçam a necessidade de acompanhamento individualizado.

Existe tratamento para a Síndrome ASIA?

Abordagem terapêutica

O tratamento é personalizado e pode incluir:

• Remoção do adjuvante (quando possível), com altas taxas de melhora, especialmente em casos de implantes.
  
• Uso de anti-inflamatórios e corticoides para controle de sintomas agudos.
  
• Medicamentos imunomoduladores para doenças autoimunes associadas.
  
• Fisioterapia, reabilitação e suporte multidisciplinar.
  
• Monitoramento regular para avaliar evolução e prevenir complicações.
  

Conclusão

A Síndrome ASIA é uma condição multifacetada e ainda pouco conhecida pelo público em geral.
Sua identificação precoce pode evitar anos de sintomas debilitantes e permitir intervenções que realmente mudem o prognóstico, como a remoção do agente desencadeante.

🩺 Se você apresenta sintomas persistentes após um implante, procedimento estético ou vacinação, procure avaliação médica especializada.

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Dr. Marcelo de Loyola e Silva Avellar Fonseca – Reumatologista

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