O derrame pericárdico é o acúmulo anormal de líquido no espaço entre as camadas do pericárdio, a membrana que envolve o coração. Essa condição pode ser causada por diversas doenças ou inflamações e, dependendo do volume acumulado, pode comprometer o funcionamento cardíaco. Reconhecer os sintomas e realizar um diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações graves.
O que é o derrame pericárdico?
O derrame pericárdico é a presença de excesso de líquido no espaço pericárdico, que é a região entre as duas camadas do pericárdio, o saco que envolve o coração. Normalmente, esse espaço contém uma pequena quantidade de líquido (15 a 50 mL) que serve para lubrificar e reduzir o atrito entre as camadas durante os movimentos cardíacos. No entanto, em algumas condições, pode haver acúmulo anormal de líquido, levando ao derrame pericárdico.
Derrame pericárdico é comum?
O derrame pericárdico não é comum na população geral, mas pode ocorrer em diversos contextos clínicos, como infecções virais, doenças autoimunes, neoplasias, insuficiência renal e após cirurgias cardíacas. Sua incidência varia de acordo com a causa subjacente e o grupo populacional avaliado, sendo mais frequente em pacientes com condições crônicas ou imunossupressão.
Quais são as causas do derrame pericárdico?
O derrame pericárdico pode resultar de inflamação do pericárdio (pericardite) devido uma doença ou lesão. Em alguns cenários, grandes derrames podem ser causados por certos tipos de câncer. Um bloqueio de fluidos pericárdicos ou uma coleção de sangue dentro do pericárdio também pode levar a essa condição. Às vezes, a causa não pode ser determinada (pericardite idiopática). ( Veja também- Pericardite aguda: causas, diagnóstico e tratamento). Abaixo destacamos as principais causas:
Infecção do pericárdio:
- Virais: Coxsackievirus, echovirus, HIV, entre outros.
- Bacterianas: Infecções piogênicas (pneumococos, estafilococos, tuberculose).
- Fúngicas e parasitárias: Mais raras.
Neoplásicas:
- Tumores primários do pericárdio (ex.: mesotelioma).
- Metástases de pulmão, mama, linfoma, leucemia.
Traumáticas:
- Trauma torácico contuso ou penetrante.
- Complicações de procedimentos cardíacos (ex.: cirurgia cardíaca, cateterismo).
Doenças autoimunes/inflamatórias:
- Lupus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide, síndrome de Sjögren.
- Síndrome de Dressler (pós-infarto ou pós-pericardiotomia).
Doenças metabólicas:
- Uremia (associada à insuficiência renal crônica).
- Mixedema (hipotireoidismo severo).
Cardíacas:
- Inflamação do pericárdio após um infarto do miocárdio ou após uma cirurgia cardíaca ou um procedimento em que o revestimento do coração é lesionado
Iatrogênicas:
- Radioterapia torácica.
- Medicamentos, como hidralazina ou procainamida.
Idiopáticas:
- Em muitos casos, a causa exata não é identificada.
Qual o mecanismo para causar o derrame pericárdico?
O derrame pericárdico ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção e a reabsorção do líquido no espaço pericárdico, levando ao seu acúmulo. Esse desequilíbrio pode ser causado por diferentes mecanismos, dependendo da condição subjacente:
Aumento da produção de líquido:
- O pericárdio normalmente produz líquido para lubrificação (15-50 mL). Inflamações (ex.: pericardites infecciosas ou autoimunes) podem levar à produção excessiva por estímulo inflamatório.
Diminuição da reabsorção:
- A reabsorção ocorre via vasos linfáticos. Doenças obstrutivas linfáticas (ex.: neoplasias) ou inflamação crônica podem reduzir a reabsorção.
Transudação de líquido:
- Em condições como insuficiência cardíaca ou hipoproteinemia, há aumento da pressão hidrostática ou redução da pressão oncótica, levando ao acúmulo passivo de líquido no pericárdio.
Exsudato inflamatório:
- Nas causas infecciosas ou autoimunes, há liberação de citocinas inflamatórias, aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de proteínas e células.
Hemopericárdio:
- Sangramento direto no espaço pericárdico por trauma, ruptura vascular (ex.: dissecção aórtica) ou complicações iatrogênicas.
Uremia:
- A retenção de toxinas em pacientes com insuficiência renal crônica induz inflamação do pericárdio, dificultando a reabsorção e promovendo o acúmulo de líquido.
Radiação e toxicidade medicamentosa:
- Danos ao pericárdio causam fibrose e alteram o fluxo linfático e vascular, resultando em acúmulo de líquido.
Quais são os sintomas do derrame pericárdico?
Os sintomas do derrame pericárdico variam de acordo com a quantidade de líquido acumulado, a velocidade com que ele se acumula e a causa subjacente. Em casos leves ou de acúmulo lento, os pacientes podem ser assintomáticos. Já em situações mais graves ou rápidas, podem ocorrer sinais e sintomas relacionados à compressão cardíaca. Abaixo destacamos os principais sintomas:
Dor torácica:
- Tipicamente localizada no meio do tórax ou na região precordial.
- Característica:
- Pode ser opressiva ou em pontada.
- Aliviada ao sentar-se e piorada ao deitar.
- Mais comum em casos associados à pericardite.
Dispneia (falta de ar):
- Relacionada ao comprometimento da função cardíaca (enchimento ventricular inadequado).
- Piora com esforço ou em posição deitada.
Cansaço ou fadiga:
- Decorrente de débito cardíaco reduzido.
Palpitações:
- Sensação de batimentos cardíacos irregulares.
Tosse seca:
- Pode ocorrer pela compressão de estruturas adjacentes, como a traqueia ou os brônquios.
Edema ou desconforto abdominal:
- Associados ao aumento da pressão venosa sistêmica em casos mais avançados.
Outros sinais clínicos relevantes
- Febre: Quando associado à infecção.
- Sintomas sistêmicos: Perda de peso, sudorese noturna (ex.: causas neoplásicas ou tuberculose).
- Sinais de insuficiência cardíaca: Como edema de membros inferiores e hepatomegalia
Quais as possíveis complicações?
Se não tratado, o derrame pode evoluir para tamponamento cardíaco, uma condição grave em que o líquido impede o coração de bombear sangue adequadamente. Os sintomas típicos do tamponamento cardíaco incluem:
- Dispneia grave.
- Tontura ou síncope: Resultante de baixo débito cardíaco.
- Pressão arterial baixa ou choque circulatório.
- Edema periférico ou turgência jugular visível.
- Pulso paradoxal:
- Queda da pressão arterial sistólica >10 mmHg durante a inspiração.
- Confusão mental:
- Secundária à hipoperfusão cerebral.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de derrame pericárdico é baseado na combinação de dados clínicos, exames físicos e exames complementares, principalmente de imagem. A confirmação geralmente é feita com o ecocardiograma, que é a ferramenta mais sensível e específica.
História clínica
- Investigação de sintomas sugestivos:
- Dispneia, dor torácica, fadiga, palpitações.
- Histórico de doenças associadas: infecções, trauma, doenças autoimunes, neoplasias, insuficiência renal.
Exame físico
- Sinais sugestivos de derrame significativo ou tamponamento cardíaco:
- Turgência jugular: Pressão venosa central elevada.
- Pulso paradoxal: Queda >10 mmHg da pressão arterial sistólica na inspiração.
- Hipotensão arterial.
- Frecção pericárdica: Pode ser auscultada em casos com pericardite associada.
- Muflamento das bulhas cardíacas: Quando o líquido no pericárdio dificulta a propagação do som.
Laboratoriais
- Hemograma: Pode revelar leucocitose (infecção) ou anemia (neoplasias, hemorragia).
- Marcadores inflamatórios: PCR e VHS elevados em causas inflamatórias.
- Função renal e eletrólitos: Em casos de uremia ou doença metabólica.
- Sorologias: Pesquisa de infecções virais (HIV, Coxsackie, etc.).
- Autoanticorpos: Investigação de doenças autoimunes (FAN, anti-DNA, fator reumatoide).
- Análise do líquido pericárdico (se realizada): Pesquisa de infecção, neoplasia, tuberculose.
Ecocardiograma transtorácico (ECO):
- Exame de escolha para confirmação.
- Sensível para detectar líquidos >50 mL.
- Identifica:
- Quantidade de líquido.
- Pressão sobre as câmaras cardíacas (sinais de tamponamento).
- Espessamento ou aderências pericárdicas.
Raio-X de tórax:
- Pode mostrar aumento da silhueta cardíaca (“sinal do coração em forma de garrafa”).
- Derrames pequenos podem ser normais no RX.
Tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM):
- Úteis para:
- Avaliar espessamento pericárdico ou massas associadas.
- Quantificar o volume do derrame com maior precisão.
- Frequentemente usadas em casos complexos ou para diagnóstico diferencial.
Eletrocardiograma (ECG):
- Pode mostrar:
- Baixa voltagem dos complexos QRS (em derrames significativos).
- Alternância elétrica (quando há grande mobilidade do coração no líquido).
- Alterações difusas de repolarização (quando há pericardite).
Qual é o tratamento para o derrame pericárdico?
O tratamento do derrame pericárdico depende de sua causa, gravidade e impacto sobre a função cardíaca. A abordagem pode incluir:
1. Observação e Manejo Clínico
- Em casos leves ou assintomáticos, especialmente quando o derrame é pequeno e não compromete o coração, pode ser suficiente apenas monitorar o paciente com exames de imagem periódicos (ecocardiograma).
- Trata-se a causa subjacente, como infecção, inflamação ou doenças autoimunes. Por exemplo:
- Pericardite viral: anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e colchicina.
- Doença autoimune: corticosteroides ou imunossupressores.
- Infecção bacteriana: antibióticos específicos.
- Uremia: diálise.
2. Drenagem do Líquido (Pericardiocentese)
- Indicada em casos de derrame volumoso, sinais de tamponamento cardíaco (hipotensão, pulso paradoxal, aumento da pressão venosa jugular) ou quando há necessidade de diagnóstico (análise do líquido pericárdico).
- Como é o procedimento de pericardiocentese?
Após anestesiar uma área específica do seu peito e usar imagens (como ecocardiografia ou fluoroscopia) para orientação, um profissional de saúde inserirá uma agulha no seu peito até que ela esteja dentro do seu pericárdio. Então, eles aspirarão (puxarão para fora) o excesso de fluido de dentro. Eles podem deixar um dispositivo fino, semelhante a um tubo, dentro do seu pericárdio para drenar o fluido por alguns dias até que ele desapareça.
3. Cirurgia (Janela Pericárdica ou Pericardiectomia)
- Indicada em:
- Recorrência frequente de derrames pericárdicos.
- Casos refratários ao tratamento clínico ou drenagem.
- Derrames associados a câncer ou infecções persistentes.
- A “janela” pericárdica permite que o fluido drenado vaze para a cavidade pleural, de modo que não preencha o espaço pericárdico.
4. Tratamento Específico para Causas Subjacentes
- Neoplasias: quimioterapia, radioterapia ou manejo paliativo dependendo do estágio.
- Hipotireoidismo: reposição de hormônio tireoidiano.
- Trauma: reparo cirúrgico imediato.
Quanto tempo demora para recuperação?
O tempo de recueração demora para você se sentir melhor e se recuperar depende destes fatores principais:
- A causa do derrame.
- A gravidade do derrame.
- Os tratamentos que você recebeu.
- Sua saúde geral e se você tem ou não outras condições médicas relacionadas.
Em casos em que você tem sintomas de tamponamento cardíaco, você deve começar a se sentir melhor, pois a remoção de fluidos diminui a pressão no seu coração. Em geral, seu médico é a melhor pessoa para lhe dizer o provável tempo de recuperação e quando você deve começar a se sentir melhor.
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Cardiologista – Curitiba
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